terça-feira, 23 de outubro de 2012

Adriana Varejão

A artista carioca Adriana Varejão é bastante reconhecida no exterior. De forma original, suas pinturas são impregnadas de história, seja ela do Brasil, seja ela da própria condição da arte e da pintura. No MAM SP ocorre a exposição Histórias às Margens, sendo esta a primeira retrospectiva da artista no país. Abaixo o relato da palestra proferida pelo professor e historiador de arte Pedro França, no MAM SP.

Para falar sobre a obra de Adriana Varejão, é preciso fazer um breve apanhado histórico sobre a pintura.

Sobre a Pintura

Em toda a história da arte, a pintura foi a linguagem artística mais conhecida e privilegiada. A relação entre pintura e arte ocorria de forma imediata, como se uma significasse a outra.

Em sua superfície plana, a pintura foi capaz de criar a ilusão de um espaço, operando assim um pequeno "milagre". Ilusão versus materialidade foram aspectos presentes na pintura desde o Renascimento.

No início do século XX , e principalmente com a obra questionadora de Duchamp, a arte ampliou suas possibilidades de materiais e suas características formais.

A arte moderna brasileira dos anos 50 já nasceu com uma perspectiva mais contemporânea, como podemos observar nas obras de Lygia Clark e Hélio Oiticica.

Nos anos 60/70 no Brasil, a pintura deixou de ser a linguagem  fundamental e se tornou uma entre muitas linguagens. Nesta época, poucos artistas brasileiros se interessaram pela pintura e, os poucos que o fizeram, introduziram novas questões à ela. Como pintar? Porque pintar? O que pintar? foram perguntas que permearam o meio artístico.

Geração 80

É nos anos 80 que a pintura voltou a ser vista com certo vigor. Conhecidos como Geração 80, vários artistas jovens se dedicaram à pintura como linguagem e, em 1984, ocorreu a exposição Como vai você Geração 80, no Parque da Lage, Rio de Janeiro. A produção destes artistas mostraram um cansaço, uma saturação à arte conceitual produzida nos anos anteriores. Ao mesmo tempo, a pintura destes novos artistas apontaram para novos conceitos, visualidades e problemas inerentes à pintura.

Uma imagem passou a ser entendida como um objeto do mundo, sendo capaz de vender produtos, conquistar votos, ganhar crédito. A imagem passou a ter a função ativa de construir o mundo, e não somente de representá-lo.

É dentro deste cenário e destas questões que pode-se entender a obra de Adriana Varejão.

Adriana Varejão

Assim como ocorreu com toda a geração de artistas dos anos 80, a artista migrou de uma pintura tradicional para uma forma mais conceitual. Conceitos como memória, história e a relação com as imagens constituintes dos imaginário brasileiro emergiram em sua obra.

Sua carreira se iniciou nos anos 70, quando pintou as representações que as pessoas tinham das coisas ou dos lugares.






Adriana Varejão se debruçou à forma como nossa história foi contada e às imagens que foram disseminadas e produzidas. De forma muito pessoal, ela fez a arte discutir a história do Brasil. Adriana recriou pinturas e desenhos de paisagistas como Debret, por exemplo, embriagou-se de seu estilo e adicionou uma outra versão à tais imagens.


 




A fragmentação da história do Brasil aparece em sua poética pela própria fragmentação dos azulejos portugueses. A artista discorre sobre sua descontinuidade, sobre seu esquartejamento. A pintura expõem suas próprias vísceras.






 
  


A sensação de umidade é outra característica de sua obra. Suas "saunas" enfatizam este aspecto, se referindo à aquilo que não é apreensível e que não tem uma forma em si.




A umidade tende a ser nossa inimiga. Ninguém gosta de se sentir úmido. No entanto, a história do Brasil pela poética de Adriana Varejão tem este aspecto. É líquida, permeável e sujeita a muitas modulações.






Para saber mais: http://www.adrianavarejao.net/

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