sábado, 8 de dezembro de 2012

Preto no Branco, Branco no Preto

É comum que relacionemos crianças à coisas coloridas. Em qualquer atividade direcionada à elas, estimula-se o colorido. E é fato, cores e crianças tem tudo a ver!

Elas gostam do verde, do azul, do vermelho, do amarelo, do rosa... Mas, em algum momento, é interessante também que elas possam se aproximar do preto e do branco.

Para desviar um pouco do habitual colorido, elaborei esta atividade para as crianças de 2 e 3 anos. Minha proposta era que elas fossem expostas ao preto e ao branco, explorando-os, sentindo-os em seus contrastes e misturando-os, descobrindo assim o cinza.

Entreguei para cada uma um papel metade branco metade preto, unindo as folhas com durex na parte de trás.


Ofereci tinta preta e branca e cotonetes para desenhar.
Não disse nada além das cores à serem trabalhadas na aula.


No início, algumas crianças só colocavam a tinta branca no papel branco e tinta preta no papel preto. Obtinham assim um desenho bastante organizado em suas cores! Aos poucos, fui propondo que elas usassem  as duas cores nos dois papeis. E então, outras imagens foram aparecendo.



Outras crianças já se aventuravam pelo papel inteiro.




E outras ainda, mais minuciosas, descobriram as diversas tonalidades do cinza.


Enfim, este é um trabalho simples sobre cores, cheio de experiência e informação.




terça-feira, 27 de novembro de 2012

A Paisagem da Janela

Estimular o desenho em seus diversos formatos é fundamental nas aulas de artes visuais. Nesta atividade procurei trabalhá-lo de forma simples, porém lúdica.

Cortei uma folha de papel sulfite A4 ao meio no sentido horizontal. Dobrei as extremidades da tira de papel levando-as ao meio, formando uma janelinha.



Neste formato, pequeno e lúdico pelo fato de abrir e fechar, instiguei meus alunos de 6 anos a desenharem uma paisagem.

Poderia ser a paisagem da janela de suas casas ou quartos, ou uma paisagem da cidade, que viam ao vir ou voltar da escola. Pelo pequeno tamanho do papel, os estimulei a pensar sobre os detalhes presentes nesta paisagem que nem sempre aparecem nos desenhos, como fios elétricos, postes, lixeiras, faixa de pedestres, bicicletas, varandas, portões, semáforos, entre outros.

Depois desta pequena conversa cheia de memórias, entreguei lápis 6b e lápis de cor.







É interessante observar como as crianças lidaram com todos os elementos na organização do desenho. 

Nesta atividade buscou-se também ampliar o repertório gráfico de cada criança, que poderá vir a enriquecer desenhos posteriores.





As crianças se dedicaram a desenhar a paisagem com seus detalhes e também em decorar a janelinha por fora.



O resultado é um trabalhinho charmoso e com bons desenhos para serem olhados.

domingo, 11 de novembro de 2012

Lygia Clark Linhas Vivas

Desenvolver atividades de artes com crianças de forma à aproximá-las do universo poético da artista Lygia Clark me parece uma possibilidade rica em experiências.

Ao propor uma arte em que o espectador interage, manipula e modifica a obra, Lygia Clark abriu um diálogo entre arte e corpo, sendo também o corpo o espaço privilegiado para atividades com crianças.



O livro Lygia Clark Linhas Vivas faz parte da coleção Arte à Primeira Vista da Editora Paulinas.
Feito para os pequenos, apresenta textos e imagens adequados à eles.





O livro vem acompanhado de um caderno-ateliê com propostas de atividades. Há, inclusive, uma sugestão de montagem dos Bichos (1963).

Talvez este seja o único material educativo sobre a artista direcionado para crianças, e de ótima qualidade.

O site da Associação Cultural O Mundo de Lygia Clark além de disponibilizar um rico material sobre a artista, como textos escritos por ela, revela um modelo de construção de um bicho (1963) e apresenta algumas propostas para professores, com ideias e sugestões de atividades.

O video abaixo demonstra como fazer as Estruturas de Caixas de Fósforos (1964), e tem uma introdução bem interessante sobre a artista.



Enfim, mãos à obra.

Veja também: http://arteemprocessos.blogspot.com.br/lygia-clark.html

sábado, 3 de novembro de 2012

Lygia Clark

Ocorre no Itaú Cultural, em São Paulo, uma retrospectiva da obra de Lygia Clark, uma das mais importantes artista brasileira.

O início de seu trabalho é fortemente influenciado pelo construtivismo da década de 1930.



Ao assinar o Manifesto Neoconcreto, novas diretrizes formais apontam para sua obra.
As obras abaixo são feitas de madeiras cortadas, pintadas e encaixadas como em um quebra cabeça.

 
Aqui, os recortes saem do plano, caminhando em direção a tridimensionalidade.
 

 
O Neoconcretismo define-se como tomada de posição com relação à arte concreta exacerbadamente racionalista e é formado por artistas que pretendem continuar a trabalhar no sentido da experimentação, do encontro de soluções próprias, integrando autor, obra e fruidor.

Lygia rompeu com o espaço bidimensional do quadro, aboliu a moldura, e sua obra invadiu a terceira dimensão. Dentro da sua proposta, o espectador abandona a condição passiva diante da obra e passa a interagir com ela, estabelecendo uma relação de transferência e doação.

São inúmeras obras em que a experiência do espectador é constituinte do trabalho.

Os Bichos são criados por Lygia em1960. São obras constituídas por placas de metal polido unidas por dobradiças, que lhe permitem a articulação. As obras são inovadoras: encorajam a manipulação do espectador, que conjugada à dinâmica da própria peça, resulta em novas configurações.

 

Em 1963, Lygia Clark começa a realizar os Trepantes, formados por recortes espiralados em metal ou em borracha, como Obra-Mole (1964), que, pela maleabilidade, podem ser apoiados nos mais diferentes suportes ocasionais como troncos de madeira ou escada.



Em Luvas Sensoriais (1968) dá-se a redescoberta do tato por meio de bolas de diferentes tamanhos, pesos e texturas.


A instalação A Casa É o Corpo: Labirinto (1968) oferece uma vivência sensorial e simbólica, experimentada pelo visitante que penetra numa estrutura de 8 metros de comprimento, passando por ambientes denominados "penetração", "ovulação", "germinação" e "expulsão".

 
 


A partir de 1976, Lygia Clark dedica-se à prática terapêutica, usando Objetos Relacionais, que podem ser, por exemplo, sacos plásticos cheios de sementes, ar ou água; meias-calças contendo bolas; pedras e conchas. Na terapia, o paciente cria relações com os objetos, por meio de sua textura, peso, tamanho, temperatura, sonoridade ou movimento. Eles permitem-lhe reviver, em contexto regressivo, sensações registradas na memória do corpo, relativas a fases da vida anteriores à aquisição da linguagem.



 
 
 
Veja no teaser da exposição do Itaú Cultural estas obras, e muitas outras, sendo experimentadas e manipuladas.



Devido a exposição, foram gravados muitos videos interessantes sobre a obra de Lygia Clark. Selecionei então alguns para aprofundar um pouco na poética da artista.

No video abaixo, Felipe Scovino, um dos curadores da exposição, fala sobre a passagem da obra de Lygia Clark do plano bidimensional para o tridimensional, da importância dos Bichos para a arte nacional e mundial, e também sobre a participação do espectador na obra da artista.



Neste outro video, Felipe Scovino fala sobre o percurso artístico da artista.



E, neste próximo,  passeia pelas obras presentes na exposição, conceituando-as e contextualizando-as.



Por fim, temos Alessandra Clark falando sobre a linha, um aspecto integrante da poética da artista que perdurou em sua obra.



Mais adiante, falarei sobre as possibilidades de trabalhos educativos a partir de sua obra.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Adriana Varejão

A artista carioca Adriana Varejão é bastante reconhecida no exterior. De forma original, suas pinturas são impregnadas de história, seja ela do Brasil, seja ela da própria condição da arte e da pintura. No MAM SP ocorre a exposição Histórias às Margens, sendo esta a primeira retrospectiva da artista no país. Abaixo o relato da palestra proferida pelo professor e historiador de arte Pedro França, no MAM SP.

Para falar sobre a obra de Adriana Varejão, é preciso fazer um breve apanhado histórico sobre a pintura.

Sobre a Pintura

Em toda a história da arte, a pintura foi a linguagem artística mais conhecida e privilegiada. A relação entre pintura e arte ocorria de forma imediata, como se uma significasse a outra.

Em sua superfície plana, a pintura foi capaz de criar a ilusão de um espaço, operando assim um pequeno "milagre". Ilusão versus materialidade foram aspectos presentes na pintura desde o Renascimento.

No início do século XX , e principalmente com a obra questionadora de Duchamp, a arte ampliou suas possibilidades de materiais e suas características formais.

A arte moderna brasileira dos anos 50 já nasceu com uma perspectiva mais contemporânea, como podemos observar nas obras de Lygia Clark e Hélio Oiticica.

Nos anos 60/70 no Brasil, a pintura deixou de ser a linguagem  fundamental e se tornou uma entre muitas linguagens. Nesta época, poucos artistas brasileiros se interessaram pela pintura e, os poucos que o fizeram, introduziram novas questões à ela. Como pintar? Porque pintar? O que pintar? foram perguntas que permearam o meio artístico.

Geração 80

É nos anos 80 que a pintura voltou a ser vista com certo vigor. Conhecidos como Geração 80, vários artistas jovens se dedicaram à pintura como linguagem e, em 1984, ocorreu a exposição Como vai você Geração 80, no Parque da Lage, Rio de Janeiro. A produção destes artistas mostraram um cansaço, uma saturação à arte conceitual produzida nos anos anteriores. Ao mesmo tempo, a pintura destes novos artistas apontaram para novos conceitos, visualidades e problemas inerentes à pintura.

Uma imagem passou a ser entendida como um objeto do mundo, sendo capaz de vender produtos, conquistar votos, ganhar crédito. A imagem passou a ter a função ativa de construir o mundo, e não somente de representá-lo.

É dentro deste cenário e destas questões que pode-se entender a obra de Adriana Varejão.

Adriana Varejão

Assim como ocorreu com toda a geração de artistas dos anos 80, a artista migrou de uma pintura tradicional para uma forma mais conceitual. Conceitos como memória, história e a relação com as imagens constituintes dos imaginário brasileiro emergiram em sua obra.

Sua carreira se iniciou nos anos 70, quando pintou as representações que as pessoas tinham das coisas ou dos lugares.






Adriana Varejão se debruçou à forma como nossa história foi contada e às imagens que foram disseminadas e produzidas. De forma muito pessoal, ela fez a arte discutir a história do Brasil. Adriana recriou pinturas e desenhos de paisagistas como Debret, por exemplo, embriagou-se de seu estilo e adicionou uma outra versão à tais imagens.


 




A fragmentação da história do Brasil aparece em sua poética pela própria fragmentação dos azulejos portugueses. A artista discorre sobre sua descontinuidade, sobre seu esquartejamento. A pintura expõem suas próprias vísceras.






 
  


A sensação de umidade é outra característica de sua obra. Suas "saunas" enfatizam este aspecto, se referindo à aquilo que não é apreensível e que não tem uma forma em si.




A umidade tende a ser nossa inimiga. Ninguém gosta de se sentir úmido. No entanto, a história do Brasil pela poética de Adriana Varejão tem este aspecto. É líquida, permeável e sujeita a muitas modulações.






Para saber mais: http://www.adrianavarejao.net/

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Pintura no Plástico

Um dia chegou na escola um plástico transparente bem grande. Não sei ao certo o porquê do plástico estar lá mas, assim que o vi, me lembrei de uma das atividades do livo Baby Art.

Utilizar um material transparente como suporte para se fazer pintura me pareceu interessante.

Como não havia uma estrutura parecida como a do livro, dispus o plástico de outra forma. Fiz dele uma parede na qual se podia pintar de ambos os lados.




As crianças, entre 2 e 3 anos, ficaram "quase" enlouquecidas com a dinâmica da aula. 

A ideia era que elas, simplesmente, pintassem o plástico. No entanto, a estrutura do suporte ofereceu novas possibilidades de movimento. As crianças deslocaram seus corpos de um lado para o outro, lidaram com o fato do plástico ser continuamente movimentado pelo passar dos pincéis das outras crianças e, pela transparência, podiam ver os amigos que se encontravam do outro lado.





Tudo isso conferiu à atividade uma dinâmica bem agitada e cheia de movimento.


Mas, neste misto entre brincadeira e arte, em nenhum momento elas se mostraram desinteressadas, e os trinta minutos da aula passaram bem rápido.