domingo, 3 de março de 2013

A escultura de Alberto Giacometti

Relato da aula proferida pela curadora e professora Regina Teixeira no curso de História da Arte, realizado nas Oficinas de Criatividade do Sesc Pompéia em 2012.

Alberto Giacometti (1901-1966)

Giacometti inicia sua pesquisa em artes retratando e esculpindo bustos de seu irmão Diego. Mais que um irmão, Diego era um parceiro de trabalho, ajudando-o e, em muitas vezes, orientando-o em suas pesquisas e decisões.

Cabeça de Diego, 1923

Como muitos artistas modernos, Giacometti se interessa pelas máscaras africanas e é influenciado pelo cubismo, fazendo surgir em seus trabalhos formas geométricas.

O Casal, 1927

Em 1927 faz sua primeira obra achatada, uma cabeça. Esse achatamento provém de sua busca pela representação da verdade. O artista quer retratar uma pessoa da forma como ele a vê. Para ele, quando se olha para um rosto, não se vê o volume total da cabeça.

Cabeça de Mulher, 1927

Por estes achatamentos e por suas próximas obras como "Mulher Colher" e "Cabeça que Olha", os surrealistas passam a se identificar com sua poética.

Mulher Colher, 1929

Após certo tempo no entanto, André Breton, principal fundador da vanguarda surrealista, se desentende com Giacometti. Breton achava inadmissível que o artista fixasse sua pesquisa em uma imagem figurativa, no caso, a forma humana. Entretanto, a figura humana era o grande tema de interesse de Giacometti.

Ainda integrante do movimento surrealista, Giacometti faz a obra "Bola Suspensa" em 1931, e este se torna um de seus trabalhos mais importantes.

Bola Suspensa, 1931

A bola não toca a base e não há nada de "sólido" como era comum nas esculturas tradicionais. Nesta obra, Giacometti também cria o espaço no qual a obra acontece. Por vezes, ela pode levar à uma leitura erótica pelo quase encontro entre as partes.

Com a morte de seu pai, em 1934, Giacometti faz um busto em sua homenagem. Neste momento, briga com André Breton novamente e retorna ao seu tema de interesse, a figura humana.

Em seus estudos, Giacometti começa a considerar e a introduzir dois novos aspectos em seus trabalhos: a distância em que ele se encontra em relação aos seus modelos e a passagem do tempo. Em relação ao espaço, Giacometti "levou ao limite a crise da escultura, como figura ou estátua, demonstrando a negatividade entre forma plástica e espaço" (Giulio Carlo Argan). Em relação ao tempo, Giacometti não buscaria uma expressão, uma psicologia dos modelos, mas algo mais eterno que, justamente, não sofresse a ação do tempo.

A partir destes novos olhares, Giacometti muda as dimensões em suas esculturas. Para o artista, o tamanho não tem a ver com a monumentalidade ou imponência de uma obra. Faz esculturas mínimas, chegando a 4,5 cm de altura.


Na pintura, é recorrente que o artista delimite o espaço no qual a imagem vai acontecer. Os olhos aparecem sempre rabiscados pois seria por eles que a verdade aconteceria. No entanto, eles nunca estão bons o suficiente para demonstrá-la.

Na obra "A Floresta" (1950) a própria  base é o espaço da escultura, é o que a separa do mundo. Giacometti diz serem as mulheres como árvores. Logo, faz uma paisagem e lhe dá o nome de floresta.

A floresta, 1950  
       
Já na obra "Quatro Mulheres" (1950) o artista busca representar o instante.

Quatro Mulheres, 1950

Algumas experiências de morte vividas pelo próprio artista também transparecem em sua obra. Observa-se bocas abertas, grandes narizes, entre outros aspectos. Há uma aflição, uma angústia pessoal que perpassa em sua poética.

A partir de 1960 começa a retratar bustos "universais", ou seja, sem terem nenhuma relação com o modelo.



Giacometti debastava suas obras de forma interminável e são estes debastes que geraram as ranhuras estéticas de suas esculturas. "Nas esculturas Giacometti vê apenas a possibilidade de uma única relação entre a forma e o espaço, a antítese: o espaço foge ao infinito, a figura se contrai, reduz-se a pouco mais que um fio, desapareceria se não a detivesse no limiar do nada um último e precário resíduo da matéria." (Giulio Carlo Argan)

Mulher em Pé, 1961

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